segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Brotherhood - The Chemical Brothers


Fala a experiência. 15 clássicos do big beat, todos da mesma banda. Para quem deseja ouvir em casa o que dançou fora dela nos últimos quinze anos.

Primeiro retira-se o plástico que a envolve (biodegradável? - não sabemos), depois abre-se a caixa e procura-se, avidamente, o CD principal (sim, que o outro é Electronic Battle Weapons , experiências mais radicais que prometemos oferecer a um fã extremoso).

Passa no teste do odor: cheira ao papel que cheira a verniz. Passa no teste do tacto: é rugoso como o papel de parede daquela fotografia vergonhosa de 1983.

Dedo no meio da rodela para não deixar vestígios, o rotundo objecto quase demodé directinho para o único leitor de CDs que funciona, ao qual conectámos umas colunas de som capazes de transformar 25 m² de sala num clube nocturno depois da quinta vodka-laranja.

Volume a dois passos do máximo, o suficiente para não sentirmos o cheiro a cortiça chamuscada, o suficiente para que o gato procure guarida no andar de cima.

O dedo hesita, só para o estilo, mas acaba por deslizar sobre a tecla Play. Começa aqui o que descreveremos doravante como "a experiência cagaçal".

Ouvimos um trecho marroquino que se repete de forma pronunciada - é "Galvanize", Q-Tip nos vocais, todas as memórias de um botão premido em 2005 (valeu-lhes um Grammy).

O que se segue é uma sequência nebulosa de memórias de caves e sub-caves, co(r)pos entornados e braços ondulantes: "Hey Boy Hey Girl" é, hoje e sempre, um detonador de loucura; "Block Rockin' Beats" pôe água na fervura e injecta alucinações sincopadas no cérebro; ouvimos "Do It Again" e imaginamos um sapateado de Justin Timberlake (mas também um robot falante em Vénus); o Bloc Party Kele Okereke mergulha num lago químico em "Believe" (e há uma sirene que o avisa que é melhor voltar para casa); os Beatles e "Tomorrow Never Knows" servem-se de Noel Gallagher para resgatar um último albatroz do cais; New Order e Primal Scream decidem em "Out of Control" quem é que vai para a cama com os Chemical Brothers.

Uma hora e treze minutos depois, o Stop automático sucede à última pancada seca de "Chemical Beats". Acabou a "experiência cagaçal". Suores, visões, ressaca (quer dizer, simulacros disto tudo). Corremos as cortinas, está um belo dia. O gato ronrona à porta.

Luís Guerra

MFR

Sem comentários: